domingo, 28 de agosto de 2011

Demasiado excelente

Estava a assistir ao jogo do Porto com o Barcelona, quando o comentador diz que determinado jogador, durante a cobrança de um lance livre, colocou demasiado a bola. Pergunto eu: Como é que se pode colocar demasiado a bola? Ou se coloca bem ou não, penso eu. Tanto mais que neste caso aquele objecto passou do lado de fora e ainda a certa distância do poste da baliza.
É chato estar sempre a explicar tudo, mas desta vez vai ter de ser. Ora bem! Chuta-se a bola. Considera-se tão mais colocada, quanto mais a sua trajectória se aproximar dos postes ou trave, ou seja, afastada do raio de acção do guarda-redes. A partir do momento em a bola não entra por ter batido nos limitadores físicos da baliza ou quando passa do lado de fora, isso chama-se, simplesmente, bola mal colocada.
Isto faz-me lembrar aqueles que, na hora de falar dos seus defeitos (por exemplo nos concursos das televisões), se apresentam como demasiado sinceros, demasiado bondosos, demasiado honestos e não sei o que mais.
Demasiado honesto? Como? Só vejo uma hipótese que passo a exemplificar: No caso de pessoas que trabalham manuseando dinheiro alheio, serão demasiado honestas se acrescentarem ao montante algum do seu próprio dinheiro.
Há adjectivos que só têm diversos graus na teoria. Na prática é sim ou não.
Muito honesto e honestíssimo são o mesmo que honesto. Pessoa pouco honesta ou não muito honesta é tão simplesmente desonesta ou não honesta. Ponto final.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Ser da cidade

Ser da cidade já não é o que era. Recordo-me que, quando há mais de 25 anos desci até Lisboa por motivos profissionais, para os lisboetas, o mundo “civilizado” parecia acabar na linha que liga a Portela de Sacavém à Pontinha. Loures já estava do lado de lá.
Quem vinha de outros locais era, invariavelmente, apelidado de vários nomes normalmente pouco abonatórios. O singular da coisa é que a grande maioria dos auto-intitulados lisboetas não o eram, efectivamente, de gema.
Olhando agora à distância para o fenómeno, percebe-se que havia uma certa razão. Fora dos grandes centros não havia acesso a uma panóplia de modernices. Os cinemas, normalmente apenas existentes nas corporações de bombeiros, passavam filmes com 20 ou mais anos. As lojas de roupas eram as feiras. As cadeias de restaurantes “fast food” nem sabiam da existência do restante território, etc.
Tinham um benefício a que ninguém na altura dava o devido valor: o sossego.
Ora deste modo, quando o tema da conversa era o nome dos actores da moda, marcas de roupa, e outros blá, blá, quem davam cartas eram invariavelmente os citadinos.
Nessa altura, a situação dos provincianos pode agora ser comparável a ter-se uma conversa sobre futebol sem que se saiba os nomes dos jogadores (Mesmo assim não é o mesmo pois se o objecto for o Benfica, nem os seus adeptos mais ferrenhos sabem os nomes daquelas dezenas de praticantes).
Mas há coisas da breca. Não é que estes mesmos senhores hoje não deixam passar em vão qualquer hipótese de dizer:
– “Apenas moro cá [em Lisboa], pois sou de Trancoso” (tenho a noção de que a maioria dos lisboetas não nativos são de Trancoso, não sei porquê).
E, quando chegam as férias, o Natal ou outra época festiva, lá vão eles para Trancoso.

Portugal

O orgulho terá de ser um sentimento a ter pelos portugueses. E não é apenas devido às batalhas travadas com os castelhanos e levadas por vencidas. Até, porque a História contada “de carreirinha” e sem buracos negros mostraria, igualmente, outras tantas que contámos por derrotas.
Refiro-me sim à nossa capacidade de resistência. Não entrando por campos da sociologia, porque isso terei de deixar para quem sabe, gostaria apenas de dar um exemplo: Conhecem algum povo capaz de estar espalhado por todo o mundo em paz com os seus acolhedores? Alguns poderão dizer: Os chineses também estão em todos os continentes. É verdade, mas estão fechados no seu mundo, pouca interacção existe com os locais a não ser para vender os seus artigos de marca “Xiaofeng”.
De todos os Estados do mundo apenas sinto inveja dos EUA e por uma única razão. O patriotismo é exemplar, o que até se reflecte e pode ser verificado no seu cinema. Conhecem algum filme americano no qual não seja visível a respectiva bandeira? Escolham um ao calhar… Até o Homem Aranha pousa num mastro. Lembram-se?
Outra face da mesma moeda: Há alguma categoria profissional cujos constituintes ainda não tenham sido heróis num filme? Há-os cujos protagonistas são médicos, professores, juízes, nadadores salvadores, militares, polícias, agricultores, cientistas, etc. Até o presidente é herói no Air Force One, protagonizado pelo Harrison Ford.
Isto leva-me a esta questão: Estou enganado ou, contrariamente aos realizados naquela confederação de Estados, os filmes portugueses (mesmo com a Soraia Chaves no elenco) mostram apenas o pior da sociedade?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ser do Sporting é apenas para quem escolheu

Quando era pequeno escolhi ser do Sporting porque o meu primo, com quem via televisão à noite, me disse ser do Benfica. Foi mais ou menos para haver um contra-ponto e não estarmos ambos de acordo aquando do visionamento dos jogos. Os sportinguistas sempre foram irreverentes no bom sentido.
Hoje, passados muitos anos, verifico que de facto quem é adepto do Benfica simplesmente o é porque nunca teve a força suficiente para escolher. Ou então não se preocupa com isso e faz também parte dos supostos seis milhões. (A minha mãe que não liga nada a futebol nem conhece o nome das equipas, certamente conta para aqueles milhões).
Por essa razão, é possível afirmar que, além de todos as outras qualidades que ostenta, o sportinguista é, e sempre foi, um elemento esclarecido.
Ora passando às ditas qualidades: sempre me disseram, até porque eu considero que tive uma educação “à altura”, que devemos saber esperar. Melhor ainda, esperar mantendo a esperança. Há dúvidas de quem vence neste campeonato?
Ainda, qual é o clube que tem o hino cantado por um elemento com o cabelo da cor principal desse mesmo grémio? Que eu saiba A Wanda Stuart não canta o do Porto nem a Cindy Lauper canta o do Benfica. Seria fácil dar ocasionalmente com quem cantasse o da Académica, mas ainda não encontraram melodia à altura.
Por fim, há a razão das razões. O SCP é a única associação desportiva que é realmente eclética. Até estão na agro-pecuária, pois praticam a Capoeira. Os outros, além de mais umas coisas, usam de quando em vez umas bicicletas ou fazem campismo.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A matemática

A maioria dos portugueses queixa-se das tormentas que a matemática lhe faz ou fez atravessar. Sinceramente não se percebe e vou passar a explicar as razões de tal sentimento. Ainda em complemento, provando assim que a matemática dá jeito, farei essa tarefa através de pontos enumerados com a numeração árabe (digam lá que esta disciplina não tem aplicação prática):
Ponto 1 – Não é difícil de estudar sozinho. Pratica-se uns quantos exercícios, verificam-se as soluções e pronto…
Ponto 2 – É fácil de se entender. Difícil é perceber os conceitos intrincados, complexos e nada claros das filosofias, sociologias, psicologias e outras “ias” do género. Nem os técnicos das áreas se entendem. Basta verificar que há teses de doutoramento que concluem uma coisa e exactamente o contrário.
Ponto 3 – A resolução dos problemas conduz, geralmente, a respostas objectivas (não necessáriamente curtas). Nos outros casos, quando se faz um teste, nunca se sabe se já foi tudo referido ou, se pelo contrário, se escreveu demasiado.
Ponto 4 – É a única área do saber que visa encontrar princípios simples capazes de explicar conceitos complexos. As tais “ias” fazem exactamente o contrário: Olham para uma pessoa que está simplesmente a dormir e conseguem transformar essa necessidade humana num complexo fenómeno intrapsíquico. Ninguém aguenta.
Ponto 5 – A matemática permite a demonstração de tudo o que existe e acontece. Ao longo dos séculos, quando não existiam as ferramentas necessárias para o efeito, inventavam-se.
Ponto 6 – Finalmente, a matemática permite que se fique milionário. Não, não estou a referir-me ao estudo das probabilidades de acertar em qualquer jogo. A questão é que existe um grupo de seis problemas (inicialmente, em 2000, eram sete) ainda sem solução conhecida, sendo que o Instituto Clay de Matemática galardoará quem resolva cada um deles com um milhão de dólares (prémio Millenium).
Mais que não seja, em tempos ouvi dizer a um sábio na matéria: “Se Deus existir a matemática há-de prová-lo”. Com isto está tudo rematado. Que outra área do conhecimento permite ter a ousadia de se efectuar esta afirmação sem parecer uma estupidez?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Final das férias – entrada em estágio

Não gosto de inventar o que quer que seja se já alguém antes o fez. E, neste caso, o mundo do futebol inventou um período que eu defendo com unhas e dentes – o estágio.
Pois bem! É conhecido um problema que afecta as pessoas no período pós-férias e que por definição coincide com o regresso à vida activa, o qual produz stress, ansiedade, etc.
Como é que os já referidos futebolistas deram a volta à questão? Pois bem. Entram em estágio, que é como quem diz: ainda não vamos trabalhar a sério; utilizaremos apenas parte do tempo para esse efeito (o restante estaremos num spa em relaxamento); e, acima de tudo, escolheremos sítios paradisíacos para o efeito.
Assim eu proponho. A partir de agora, após as férias, iremos chegar aos nossos locais de trabalho nas calmas. Consoante o nosso estado, trabalharemos apenas um dos períodos – manhã ou tarde – sendo substituídos ao intervalo. Quem aguentar, ou preferir, será substituído a meio da semana.
Além de tudo isto, as empresas deverão reservar hotéis para o efeito em zonas balneares para que a transição se faça de forma suave.
Assim julgo que é ultrapassado facilmente a síndrome pós férias.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mestres Doutores

De um momento para o outro dou comigo a pensar que hoje é obrigatório prosseguir continuamente com os estudos superiores. Não porque seja essencial, não porque seja obrigatório, mas porque a sociedade vai deixando de “considerar”, sucessivamente, os níveis mais baixos.
A norma passou a ser o grau de Mestre, até porque muitos cursos leccionam este nível de forma integrada logo após a Licenciatura, não havendo possibilidade de sair, aos três anos, apenas com aquela.
Ora assim sendo, parece-me que daqui a poucos anos o grau mínimo exigido pela sociedade será o de Doutor. E depois? Bem, poderá efectuar-se Pós-Doutoramentos, mas “não é a mesma coisa”.
Tenho a noção que irei assistir ao seguinte diálogo entre dois colaboradores de um centro comercial:
Fulano A - Olha! Tenho de ir inscrever-me no doutoramento porque com o grau de Mestre, que tenho, apenas me dá habilitação para vender na época de saldos. Para o período normal não chega, há muitos concorrentes. Vou ser despedido.
Fulano B - Não me digas nada. Olha que, para trabalhar aqui, no cabeleireiro, após o doutoramento em Barbas e Cabelo, ainda tive que fazer um pós doutoramento em corte masculino.
Então, proponho desde já o aumento dos níveis de ensino e, à semelhança das patentes dos oficiais generais (Major General, Tenente General e General), sugiro a criação de três graus entre os Doutores: Licenciado Doutor, Bacharel Doutor, Doutor. Ainda podemos adoptar mais uma similitude, desta vez da Marinha, e criávamos, como o maior entre os maiores, o Doutor da Universidade. Assim, já teríamos para mais uns anos!